sexta-feira, 17 de outubro de 2014

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS 6ª PARTE - AS DIFICULDADES DE SER CRIANÇA

As dificuldades de ser criança

A narrativa Peter Pan, escrita James Barrie, um escocês em 1904, nos deixa uma mensagem muito bonita sobre o universo infantil sendo invadido pelos anseios dos adultos: conta a história, que Peter Pan ao nascer escuta os seus pais conversando sobre como ele seria quando crescesse, neste momento ele decide que não quer crescer e ser um adulto e decide que quer ser para sempre uma criança. Este momento da história nos faz refletir sobre o quanto as expectativas do adulto com relação à criança pode assustá-la ou até mesmo afastá-la a ponto de recusar a ideia de um dia também se tornar um adulto.
É muito difícil viver sob a sombra das expectativas do outro e nunca poder ser quem realmente quer ser. No conto também percebemos como Peter Pan se preocupa com que as crianças acreditem no mundo da fantasia, ou seja, nas fadas, que elas não percam a sua essência de imaginar que podem estar em outros lugares quando ainda continuam no mesmo lugar, é importante para as crianças explorarem esse campo da imaginação, e com isso conseguirem enfrentar as dificuldades que aparecerão durante a vida.
Acreditar em fadas, papai Noel, super-heróis é muito significativo para os pequenos, pois ter um aliado quando se enfrenta um problema é muito gratificante, nós nos sentimos mais fortes e encorajados. Mesmo quando crescemos continuamos com a necessidade de acreditar que existem forças superiores a nós que nos ajudam a resolver os nossos problemas, então porque não deixar que as crianças façam também o uso desta necessidade que é essencialmente humana?

Carência
A carência também é assunto que aparece em vários contos, porém como exemplo, trazemos uma história de Andersen,o conto “A menina dos Fósforos” , extraído dos contos de Andersen. 3.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, p.355, que é bastante comovente, e faz refletir sobre a injustiça social cruel e desumana a qual algumas crianças podem estar enfrentando cotidianamente. O conto fala de uma menina que, tremendo de frio, de fome, numa terrível e gélida noite de Ano Novo europeu, vendo as luzes, a comida, as árvores alegres de Natal em todas as casas por onde vai passando, e ela só tem uma caixa de fósforos para vender... E, querendo ver melhor aquele mundo, querendo se aquecer mais, vai acendendo um a um de seus fósforos, e cada pequena chama a faz imaginar coisas bonitas, boas, iluminadas, maravilhosas, até que recebe o abraço de uma avó, já morta, que a leva para as alturas, para junto de Deus, onde não há fome, frio nem medo.
Esta narrativa nos faz pensar no que realmente uma criança precisa para crescer de maneira digna e ser feliz, proteção, amor, comida, agasalho, teto são fatores indispensáveis para que isto ocorra. Podemos também utilizar esta narrativa para trabalharmos com as nossas crianças as suas carências, as suas ansiedades, os seus direitos enquanto cidadãos.

Autodescobertas
Este é um assunto bem exposto na narrativa “O patinho Feio”, extraída do livro de Contos de Andersen (que tem muito de autobiográfico). Rio de Janeiro, Paz e Terra, p. 240.
Nós podemos enxergar neste conto a busca pela descoberta da própria identidade, o que é fundamental para o crescimento. O conto narra a história de um patinho que desde seu nascimento foi maltratado, ridicularizado, bicado (por outros patos e galinhas) por ser feio.... Rejeitado pela mãe, pelos irmãos, foge e continua sendo martirizado e desprezado por sua feiúra, por todos que o encontra em sua triste e melancólica caminhada... E foge cada vez mais assustado, nunca compreendido (inclusive pela velha com quem mora um tempo). Fugindo de novo, atravessa um frio gélido e finalmente se aproxima duma lagoa plácida, onde deslizam belos cisnes, que não só o reconhecem de imediato, como um dos seus, e mais ainda o elegem o mais belo e formoso dentre eles!
Contar esta história para as crianças é possibilitar o seu desenvolvimento na busca da sua identidade, identificando as semelhanças e diferenças entre as pessoas, mesmo que inconscientemente, fazendo descobertas a respeito de si mesmas, como por exemplo, se ela se parece mais com seu pai ou com sua mãe, se seus cabelos são da mesma cor que o do seu pai, etc.
"...O poder de se encontrar, se conhecer, depois de ter sido o patinho feio, que só se percebe cisne após descobrir sua identidade (o que significa percorrer uma trajetória longa, difícil e muito sofrida..) ai a belezura é total!!! É então que nos sentimos capazes de enfrentar o dragão, o gigante, o ogro, o monstro, ou o nome que tenha no nosso dia a dia, enfim, aquele que pensamos ser maior ou desconhecido, ou inatingível, ou cercado de forças inabaláveis e poderosas..."(ABRAMOVICH, 1997, p.135)

Perdas e buscas
Os contos de fada também falam de perdas, buscas, abandonos, de esquecimentos, de quem um dia foi significativo, marcante, mas que, por várias razões (até mesmo a morte já não toca ou comove...) é esquecido. Andersen conta isso linda, triste e poeticamente em “O pinheirinho”, onde uma bela árvore abandonada, renegada, após ter vivido uma experiência inesquecível numa noite de natal, e que a cada novo dia espera um novo momento belo e cálido, um novo aconchego, uma nova audição de histórias emocionantes a sua volta, que nunca acontecem... Ao ser levado para fora da casa, imagina um recomeço de vida. Mas é cortado, transformado em lenha, e gemendo, gemendo... Vai sendo queimado... (como permitimos que aconteça com nossos avós, nossos sábios, nossos antigos ídolos).
Este conto nos dá a possibilidade de trabalharmos com as crianças as mudanças de fases da vida aceitando uma nova etapa, as perdas, falando para elas que isto faz parte do seu crescimento e desenvolvimento humano.

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